OS MAIAS
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preta e franzir o sobr’olho. Depois vir commigo; não dizer nada; tratar o Damaso por «v. exc.ª»; assentar em tudo o que eu propuzer; e nunca desfranzir o sobr’olho nem despir a sobrecasaca...

Sem outra observação, Cruges partiu a cobrir-se de ceremonia e de negro. Mas no meio da rua retrocedeu:

— Ó Carlos, olha que eu fallei lá em casa. Os quartos do primeiro andar estão livres, e forrados de papel novo...

— Obrigado. Vai-te fazer sombrio, depressa!...

O maestro abalára, quando diante do Gremio estacou a todo o trote uma caleche. De dentro saltou o Telles da Gama que, ainda com a mão no fecho da portinhola, gritou aos dois amigos:

— O Gouvarinho? está lá em cima?

— Está... Novidade fresca?

— Os homens cahiram. Foi chamado o Sá Nunes!

E enfiou pelo pateo, correndo. Carlos e Ega continuaram devagar até ao portão do Cruges. As janellas do primeiro andar estavam abertas, sem cortinas. Carlos, erguendo para lá os olhos, pensava n’essa tarde das corridas em que elle viera no phaeton, de Belem, para vêr aquellas janellas: ia então escurecendo, por traz dos stores fechados surgira uma luz, elle contemplára-a como uma estrella inaccessivel... Como tudo passa!

Retrocederam para o Gremio. Justamente o