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OS MAIAS

Sob estes retoques de chic, dados á pressa sob a influencia do Maia, impertigava-se a sólida mobilia do pai Salcede, de mogno e velludo azul; a console de marmore, com um relogio de bronze dourado, onde Diana acariciava um galgo; o grande e dispendioso espelho, tendo entalado no caixilho uma fila de bilhetes de visita, de retratos de cantoras, de convites para soirées. E Cruges ia examinar estes documentos, quando os passos alegres do Damaso soaram no corredor. O maestro correu logo a perfilar-se ao lado do Ega, diante do canapé de velludo, teso, commodo, com o seu chapéo alto na mão.

Ao vêl-o, o bom Damaso, que se abotoára todo n’uma sobrecasaca azul, florida por um botão de camelia, atirou risonhamente os braços ao ar:

— Então esta é que é a pessoa de ceremonia? Sempre vocês têm coisas! E eu a pôr sobrecasaca... Por pouco que não lhe afinfo com o habito de Christo!...

Ega atalhou, muito sério:

— O Cruges não é de ceremonia, mas o motivo que aqui nos traz é delicado e grave, Damaso.

Damaso arregalou os olhos, reparando emfim n’aquelle estranho modo dos seus amigos, ambos de negro, seccos, tão solemnes. E recuou, todo o sorriso se lhe apagou na face.

— Que diabo é isso? Sentem-se, sentem-se vocês...

A voz apagava-se-lhe tambem. Pousado á borda