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OS MAIAS

ponto é este: o Damaso injuriou Carlos da Maia: ou se retracta publicamente d’essa injuria, ou dá uma reparação pelas armas...

Mas o Damaso, sem escutar, appellava desesperadamente para o Cruges, que se não movera do sofá de velludo, esfregando, um contra o outro, com um ar arripiado e de dôr, os dois sapatos novos de verniz.

— Aquelle Carlos! Um homem que se dizia meu amigo intimo! Um homem que fazia de mim tudo! Até lhe copiava coisas... Você bem viu, Cruges. Diga! Falle, homem! Não sejam vocês todos contra mim!... Até ás vezes ia á alfandega despachar-lhe caixotes...

O maestro baixava os olhos, vermelho, n’um infinito mal-estar. E Ega, por fim, já farto, lançou uma intimação derradeira:

— Em resumo, Damaso, desdiz-se ou bate-se?

— Desdizer-me? tartamudeou o outro, impertigando-se, n’um penoso esforço de dignidade, a tremer todo. E de quê? Ora essa! É boa! Eu sou lá homem que me desdiga!

— Perfeitamente, então bate-se...

Damaso cambaleou para traz, desvairado:

— Qual bater-me! Eu sou lá homem que me bata! Eu cá é a sôcco. Que venha para cá, não tenho medo d’elle, arrombo-o...

Dava pulinhos curtos de gordo, através do tapete, com os punhos fechados e em riste. E queria Carlos alli para o escavacar! Não lhe faltava mais