OS MAIAS
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senão bater-se... E então duellos em Portugal, que acabavam sempre por troça!

Ega no emtanto, como se a sua missão estivesse finda, abotoára a sobrecasaca e recolhia os papeis espalhados sobre a Biblia. Depois, serenamente, fez a ultima declaração de que fôra incumbido. Como o snr. Damaso Salcede recusava retractar-se e rejeitava tambem uma reparação pelas armas, Carlos da Maia prevenia-o de que em qualquer parte que o encontrasse d’ahi por diante, fosse uma rua, fosse um theatro, lhe escarraria na face...

— Escarrar-me! berrou o outro, livido, recuando, como se o escarro já viesse no ar.

E de repente, espavorido, coberto de bagas de suor, precipitou-se sobre o Ega, agarrando-lhe as mãos, n’uma agonia:

— Ó João, ó João, tu, que és meu amigo, por quem és, livra-me d’esta entaladella!

Ega foi generoso. Desprendeu-se d’elle, empurrou-o brandamente para a poltrona, calmando-o com palmadinhas fraternaes pelo hombro. E declarou que, desde que Damaso appellava para a sua amizade, desapparecia o enviado de Carlos necessariamente exigente, ficava só o camarada, como no tempo dos Cohens e da villa Balzac. Queria pois o amigo Damaso um conselho? Era assignar uma carta affirmando que tudo o que fizera publicar na Corneta sobre o snr. Carlos da Maia e certa senhora fôra invenção falsa e gratuita. Só isto o salvava. D’outro modo, Carlos um dia, no