OS MAIAS
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Ega afastou os livros na mesa, abancou, atirou largamente ao papel a data e a adresse do Damaso...

— Eu faço o rascunho, você depois copía...

— Pois sim! gemeu o outro, de novo, aluido na poltrona, passando o lenço pelo pescoço e pela face.

Ega no emtanto escrevia muito lentamente, com amor. E n’aquelle silencio, que o embaraçava, Cruges terminou por se erguer, foi coxeando até ao espelho onde se desenrolavam, entalados na frincha do caixilho, bilhetes e photographias. Eram as glorias sociaes do Damaso, os documentos do chic a valer que era a paixão da sua vida: bilhetes com titulos, retratos de cantoras, convites para bailes, cartas de entrada no Hippodromo, diplomas de membro do Club Naval, de membro do Jockey Club, de membro do Tiro aos Pombos: — até pedaços cortados de jornaes annunciando os annos, as partidas, as chegadas do snr. Salcede, «um dos nossos mais distinctos sportmen».

Desventuroso sportman! Aquella folha de papel, onde o Ega rascunhava, ia-o enchendo pouco a pouco d’um terror angustioso. Santo Deus! Para que eram tantos apuros n’uma carta ao Carlos, um rapaz intimo? Uma linha bastaria: — «Meu querido Carlos, não te zangues, desculpa, foi brincadeira.» Mas não! Toda uma pagina de letra miuda com entrelinhas! Já mesmo Ega voltava a