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OS MAIAS

folha, molhava a penna, como se d’ella devessem escorrer sem cessar coisas humilhadoras! Não se conteve, estendeu a face por sobre a mesa, até o papel:

— Ó Ega, isso não é para publicar, pois não é verdade?

Ega reflectiu, com a penna no ar:

— Talvez não... Estou certo que não. Naturalmente Carlos, vendo o seu arrependimento, deixa isto esquecido no fundo d’uma gaveta.

Damaso respirou com allivio. Ah, bem! Isso parecia-lhe mais decente entre amigos! Que lá isso, mostrar o seu arrependimento, até elle desejava! Com effeito o artigo fôra uma tolice... Mas então! Em questões de mulheres era assim, assomado, um leão...

Abanou-se com o lenço, desanuviado, recomeçando a achar sabôr á vida. Findou mesmo por accender um charuto, levantar-se sem rumor, acercar-se do Cruges — que, coxeando através das curiosidades da sala, encalhára sobre o piano e sobre os livros de musica, com o pé dorido no ar.

— Então tem-se feito alguma coisa de novo, Cruges?

Cruges, muito vermelho, resmungou que não tinha feito nada.

Damaso ficou alli um momento, a mascar o charuto. Depois, atirando um olhar inquieto á mesa onde o Ega rascunhava interminavelmente, murmurou, sobre o hombro do maestro: