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OS MAIAS

Carlos encolhia os hombros, impaciente. E Affonso, já bem disposto para com o homem que assim admirava tão prodigamente o seu neto, murmurou com bondade:

— Coitado, supponho que é inoffensivo...

Craft fez uma ovação ao velho:

Inoffensivo! Admiravel, snr. Affonso da Maia! Inoffensivo, applicado a um homem d’estado, a um par, a um ministro, a um legislador, é um achado! E é com effeito o que elle é, inoffensivo... E é o que elles são...

— Chablis? murmurou o escudeiro.

— Não, tomo chá.

E acrescentou:

— Aquelle champagne que hontem bebemos nas corridas, por patriotismo, arrasou-me... Tenho de me pôr uma semana a regimen de leite.

Então fallou-se ainda das corridas, dos ganhos de Carlos, do Clifford, e do véo azul do Damaso.

— Ora quem estava hontem muito bem vestida era a Gouvarinho, disse Craft remexendo o seu chá. Ficava-lhe admiravelmente aquelle branco creme, tocado de tons negros. Uma verdadeira toilette de corridas... C’était un œillet blanc panaché de noir... Vossê não achou, Carlos?

— Sim, rosnou Carlos, estava bem.

Outra vez a Gouvarinho! Parecia-lhe agora que não haveria na sua vida conversa em que não surgisse a Gouvarinho, e que não haveria caminho