na redacção, n’aquella noite de intriga e de crise, Neves cravou n’elle os olhos tão curiosos, tão inquietos, que o Ega apressou-se a dizer:
— Nada de politica, negocio particular... Não te interrompas. Depois fallaremos.
O outro findou a injuria que estava lançando ao José Bento, «essa grande besta que fôra metter tudo no bico da amiga do Sousa e Sá, o par do reino» — e na sua impaciencia saltou da mesa, travou do braço do Ega arrastando-o para um canto:
— Então que é?
— É isto, em quatro palavras. O Carlos da Maia foi offendido ahi por um sujeito muito conhecido. Nada d’interessante. Um paragrapho immundo na Corneta do Diabo, por uma questão de cavallos... O Maia pediu-lhe explicações. O outro deu-as, chatas, medonhas, n’uma carta que quero que vocês publiquem.
A curiosidade do Neves flammejou:
— Quem é?
— O Damaso.
O Neves recuou d’assombro:
— O Damaso!? Ora essa! Isso é extraordinario! Ainda esta tarde jantei com elle! Que diz a carta?
— Tudo. Pede perdão, declara que estava bebedo, que é de profissão um bebedo...
O Neves agitou as mãos com indignação:
— E tu querias que eu publicasse isso, homem? O Damaso, nosso amigo politico!... E que não fosse, não é questão de partido, é de decencia!