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OS MAIAS

Casa Havaneza, berrando, batendo as mãos, affirmaram soberbamente o céo!

O Ega que ria, divertido, sentiu ao lado um som rouco de cólera. Era o Alencar, de paletot, de gravata branca, cofiando sombriamente os bigodes.

— Que te parece, Thomaz?

— Faz nojo! rugiu surdamente o poeta.

Tremia, revoltado! N’uma noite d’aquellas, toda de poesia, quando os homens de letras se deviam mostrar como são, filhos da democracia e da liberdade, vir aquelle pulha pôr-se alli a lamber os pés á familia real... Era simplesmente ascoroso!

Lá ao fundo, junto aos degraus do tablado, ia um tumulto d’abraços, de comprimentos, em torno do Rufino, que reluzia todo de orgulho e suor. E pela porta os homens escoavam-se, afogueados, commovidos ainda, puxando das charuteiras. Então o poeta travou do braço do Ega:

— Ouve lá, eu vinha justamente procurar-te. É o Guimarães, o tio do Damaso, que me pediu para te ser apresentado... Diz que é uma coisa séria, muito séria... Está lá em baixo no botequim, com um grog.

Ega pareceu surprehendido... Coisa séria!?

— Bem, vamos nós lá baixo tomar tambem um grog! E que recitas tu logo, Alencar?

A Democracia, foi dizendo o poeta pela escada, com certa reserva. Uma coisita nova, tu verás... São algumas verdades duras a toda essa burguezia...