OS MAIAS
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— «Meu caro tio! A carta de que falla foi escripta pelo snr. João da Ega. Eu era incapaz de tal desacato á nossa querida familia. Foi elle que me agarrou na mão, á força, para eu assignar: e eu, n’aquella atrapalhação, sem saber o que fazia, assignei para evitar fallatorios. Foi um laço que me armaram os meus inimigos. O meu querido tio, que sabe como eu gósto de si, que até estava o anno passado com tenção, se soubesse a sua morada em Paris, de lhe mandar meia pipa de vinho de Collares, não fique pois zangado commigo. Bem infeliz já eu sou! E se quizer procure esse João da Ega que me perdeu! Mas acredite que hei de tirar uma vingança que ha de ser fallada! Ainda não decidi qual, n’esta atarantação; mas em todo o caso a nossa familia ha de ficar desenxovalhada, porque eu nunca admitti que ninguem brincasse com a minha dignidade... E se o não fiz já antes de partir para Italia, se ainda não pugnei pela minha honra, é porque ha dias, com todos estes abalos, veio-me uma tremenda dysenteria, que estou que me não tenho nas pernas. Isto por cima dos meus males moraes!...» V. exc.ª ri-se, snr. Ega?

— Pois que quer v. exc.ª que eu faça? balbuciou o Ega por fim, suffocado, com os olhos em lagrimas. Rio-me eu, ri-se o Alencar, ri-se v. exc.ª Isso é extraordinario! Essa dignidade, essa dysenteria...

O snr. Guimarães, embaçado, olhou o Ega,