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OS MAIAS

olhou o poeta que fungava sob os longos bigodes, e terminou por dizer:

— Com effeito, a carta é d’uma cavalgadura... Mas o facto permanece...

Então Ega appellou para o bom senso do snr. Guimarães, para a sua experiencia das coisas d’honra. Comprehendia elle que dois cavalheiros, indo desafiar um homem a sua casa, lhe agarrem no pulso, o forcem violentamente a assignar uma carta em que elle se declara bebedo?...

O snr. Guimarães, agradado com aquella deferencia pelo seu tacto e pela sua experiencia, confessou que o caso, pelo menos em Paris, seria pouco natural.

— E em Lisboa, senhor! Que diabo, isto não é a Cafraria! E diga-me o snr. Guimarães outra coisa, de gentleman para gentleman: como considera seu sobrinho? um homem irreprehensivelmente veridico?

O snr. Guimarães cofiou as barbas, declarou lealmente:

— Um refinado mentiroso.

— Então! gritou Ega em triumpho, atirando os braços ao ar.

De novo Alencar interveio. A questão parecia-lhe satisfactoriamente finda. E não restava senão os dois apertarem-se a mão fraternalmente, como bons democratas...

Já de pé, atirou a genebra ás guelas. Ega sorria, estendia a mão ao snr. Guimarães. Mas o velho