OS MAIAS
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Darque. E a boa D. Maria tocou-lhe logo no braço para saber quem era aquelle musico de cabelleira.

— Um amigo meu, murmurou Ega. Um grande maestro, o Cruges.

O Cruges... O nome correu entre as senhoras, que o não conheciam. E era composição d’elle, aquella coisa triste?

— É de Beethoven, snr.ª D. Maria da Cunha, a Sonata pathetica.

Uma das Pedrosos não percebera bem o nome da Sonata. E a marqueza de Soutal, muito séria, muito bella, cheirando devagar um frasquinho de saes, disse que era a Sonata pateta. Por toda a bancada foi um rastilho de risos suffocados. A Sonata pateta! Aquillo parecia divino! Da extremidade o Vargas gordo, o das corridas, estendeu a face enorme, imberbe e côr de papoula:

— Muito bem, snr.ª marqueza, muito catita!

E passou o gracejo a outras senhoras, que se voltavam, sorriam á marqueza, entre o frou-frou dos leques. Ella triumphava, bella e séria, com um velho vestido de velludo preto, respirando os saes — emquanto adiante um amador de barba grisalha cravava n’aquelle rancho ruidoso dois grandes oculos d’ouro que faiscavam de cólera.

No emtanto, por toda a sala, o susurro crescia. Os encatarrhoados tossiam livremente. Dois cavalheiros tinham aberto a Tarde. E cahido sobre o teclado, com a gola da casaca fugida para a nuca, o pobre Cruges, suando, estonteado por aquella