OS MAIAS
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batera um murro na mesa e dissera: Ce sacré Guimaran, il nous embête, faut lui donner du pied dans le derrière! Eu não estava lá, não sei, mas affirmaram-me... Em Paris, como os francezes não sabem pronunciar Guimarães, e eu embirro que me estropiem o nome, assigno Mr. Guimaran. Ha dois annos, quando fui á Italia, era Mr. Guimarini. E se fôr agora á Russia, cá por coisas, hei de ser Mr. Guimaroff... Embirro que me estropiem o nome!

Tinham voltado á porta do salão. Longas bancadas vazias punham dentro, no brilho pesado do gaz, uma tristeza de abandono e tedio; e no estrado o Prata continuava, de mão no bolso, com o nariz sobre o manuscripto, sem que se sentisse agora surdir um som d’aquelle espantalho esguio. Mas o marquez, que descia do fundo, atabafando-se no seu cache-nez de sêda, disse ao Ega ao passar que o homemzinho era muito pratico, sabia da póda, e lá tinha ficado ás voltas com Proudhon.

Ega e o democrata recomeçaram então os seus passos lentos na ante-sala onde o susurro de conversas mal abafadas crescia, como n’um pateo, entre fumaças furtivas de cigarro. E o snr. Guimarães chasqueava, achando uma boa bêtise que se citasse Proudhon, alli n’aquelle theatreco, a proposito d’estrumes do Minho...

— Oh, Proudhon entre nós, acudiu Ega rindo, cita-se muito, é já um monstro classico. Até