378
OS MAIAS

Que os tempos passem e rolem
E nenhuma luz assome,
E eu veja d’um lado a fome
E do outro a indigestão!

Ega torcia-se, fungando dentro do lenço, jurando que rebentava. «E do outro a indigestão!» Nunca, nas alturas lyricas, se gritára nada tão extraordinario! E sujeitos graves, em redor, sorriam d’aquelle realismo sujo. Um jocoso lembrou que para indigestões já havia o bi-carbonato de potassa.

— Quando não são das minhas! rosnou um cavalheiro esverdinhado, que alargava a fivela do collete.

Mas tudo emmudeceu ante um chut terrivel do marquez, que desapertára o cache-nez, já excitado, no enternecimento que sempre lhe davam estes humanitarismos poeticos. E entretanto, no estrado, o Alencar achára a solução do soffrimento humano! Fôra uma Voz que lh’a ensinára! Uma Voz sahida do fundo dos seculos, e que através d’elles, sempre suffocada, viera crescendo todavia irresistivelmente desde o Golgotha até á Bastilha! E então, mais solemne por traz da mesa, com um arranque de Precursor e uma firmeza de Soldado, como se aquelle honesto movel de mogno fosse um pulpito e uma barricada — o Alencar, alçando a fronte n’uma grande audacia á Danton, soltou o brado temeroso. Alencar queria a Republica!

Sim, a Republica! Não a do Terror e a do odio, mas a da mansidão e do Amor. Aquella em que