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OS MAIAS

para uma Imagem que pregas de setim cobrissem, estrellas d’ouro coroassem. E mal se sabia já se Essa, que se invocava e se esperava, era a deusa da Liberdade — ou Nossa Senhora das Dôres.

Alencar no emtanto via-a descer, espalhando um perfume. Já Ella tocava com os seus pés divinos os valles humanos. Já do seu seio fecundo trasbordava a universal abundancia. Tudo reflorescia, tudo rejuvenescia:

As rosas têm mais aroma!
Os fructos têm mais doçura!
Brilha a alma clara e pura,
Solta de sombras e véos...
Foge a dôr espavorida,
Foi-se a fome, foi-se a guerra,
O homem canta na terra,
E Christo sorri nos céos!...

Uma acclamação rompeu, immensa e rouca, abalando os muros côr de canario. Moços exaltados treparam ás cadeiras, dois lenços brancos fluctuavam. E o poeta, tremulo, exhausto, rolou pela escada até aos braços que se lhe estendiam frementes. Elle suffocava, murmurava: «filhos! rapazes!...» Quando Ega correu do fundo, com Carlos, gritando — «Fôste extraordinario, Thomaz!» — as lagrimas saltaram dos olhos do Alencar, quebrado todo d’emoção.

E ao longo da coxia a ovação continuou, feita de palmadinhas pelo hombro, de shake-hands da gente séria, de «muitos parabens a v. exc.ª!» Pouco a pouco elle erguia a cabeça, n’um altivo