388
OS MAIAS

Maria Eduarda Maia, como quizer, que eu conheci de pequena, com quem andei muitas vezes ao collo, que fugiu com o Mac-Gren, que esteve depois com a besta do Castro Gomes... Essa mesma!

Era ao meio do Loreto sob o lampeão de gaz. E o snr. Guimarães de repente estacou, vendo os olhos do Ega esgazearem-se de horror, uma terrivel pallidez cobrir-lhe a face.

— V. exc.ª não sabia nada d’isto?

Ega respirou fortemente, arredando o chapéo da testa sem responder. Então o outro, embaçado, terminou por encolher os hombros. Bem, via que tinha feito uma tolice! A gente nunca se devia intrometter nos negocios alheios! Mas acabou-se! Imaginasse o snr. Ega que aquillo fôra um pesadêlo, depois da versalhada do sarau! Pedia desculpa sinceramente — e desejava ao snr. João da Ega muitissimo boas noites.

Ega, como a um clarão de relampago, entrevira toda a catastrophe: e agarrou avidamente o braço do snr. Guimarães, n’um terror que elle abalasse, desapparecesse, levando para sempre o seu testemunho, esses papeis, o cofre da Monforte, e com elles a certeza — a certeza por que agora anciava. E através do Loreto, vagamente, foi balbuciando, justificando a sua emoção, para tranquillisar o homem, poder lentamente arrancar-lhe as coisas que soubesse, as provas, a verdade inteira.

— O snr. Guimarães comprehende... Isto são coisas muito delicadas, que eu suppunha absolutamente