OS MAIAS
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ignoradas de todos... De modo que fiquei embatucado, fiquei tonto, quando o ouvi assim de repente fallar d’ellas com essa simplicidade... Porque emfim, aqui para nós, essa senhora não passa em Lisboa por irmã de Carlos.

O snr. Guimarães atirou logo a mão n’um grande gesto. Ah, bem! Então era jogo com elle? Pois tinha feito o snr. Ega perfeitamente... Com certeza eram coisas muito sérias, que necessitavam toda a sorte de véos... Elle comprehendia, comprehendia muito bem!... E realmente, dada a posição dos Maias em Lisboa, na sociedade, aquella senhora não era irmã que se apresentasse.

— Mas a culpa não a teve ella, meu caro senhor! Foi a mãi, foi aquella extraordinaria mãi que o Diabo lhe deu!...

Desciam o Chiado. Ega parou um momento, devorando o velho com olhos de febre:

— O snr. Guimarães conheceu muito essa senhora, a Monforte?

Intimamente! Já a conhecera em Lisboa — mas de longe, como mulher de Pedro da Maia. Depois viera essa tragedia, ella fugira com o italiano. Elle abalára tambem para Paris n’esse anno, com uma Clemence, uma costureira da Levaillant: e, umas coisas enfiando n’outras, negocios e desgraças, por lá ficára para sempre! Emfim, não era a sua vida que lhe ia contar... Só mais tarde encontrára a Monforte, uma noite, no baile Laborde: e d’ahi datavam as suas relações. A esse tempo já o italiano