OS MAIAS
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dia, quando a vi na carruagem com v. exc.ª e com o irmão... De sorte que fui ficando com os papeis. Nem a fallar a verdade, com estas coisas todas de politica, me lembrei mais d’elles. E agora ahi estão, ás ordens da familia.

— Se isso não fosse incommodo para v. exc.ª, acudiu Ega, eu passava agora pelo seu hotel e levava-os logo commigo...

— Incommodo nenhum! Estamos em caminho, é negocio que fica feito!

Algum tempo seguiram calados. O sarau decerto acabára. Um bater de carruagens atroava as descidas do Chiado. Junto d’elles passaram duas senhoras, com um rapaz que bracejava, fallando alto do Alencar. O snr. Guimarães tirára lentamente do bolso a charuteira: depois parando, para raspar um phosphoro:

— Então a D. Maria passa simplesmente por parenta?... E como soube ella? Como foi isso?

Ega, que caminhava com a cabeça cahida, estremeceu como se acordasse. E começou a tartamudear uma historia confusa, de que elle mesmo córava na sombra. Sim, Maria Eduarda passava por parenta. Fôra o procurador que descobrira. Ella rompera com o Castro Gomes, com todo o passado. Os Maias davam-lhe uma mezada; e vivia nos Olivaes, muito retirada, como filha d’um Maia que morrera na Italia. Todos gostavam muito d’ella, Affonso da Maia tinha grande ternura pela pequena...