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OS MAIAS

E de repente indignou-se com estas invenções por onde arrastava já o nome do nobre velho, exclamou como se abafasse:

— Emfim, nem eu sei, um horror!

— Um drama! resumiu gravemente o snr. Guimarães.

E como estavam no Pelourinho rogou ao Ega que esperasse um momento emquanto elle corria acima buscar os papeis da Monforte.

Só, no largo, Ega ergueu as mãos ao céo n’um desabafo mudo d’aquella angustia em que caminhava, como um somnambulo, desde o Loreto. E a sua unica sensação, bem clara — era a indestructivel certeza da historia do Guimarães, tão compacta, sem uma lacuna, sem uma falha por onde rachasse e se fizesse cahir aos pedaços. O homem conhecera Maria Monforte em Lisboa, ainda mulher de Pedro da Maia, brilhando no seu cavallo lazão; encontrára-a em Paris já fugida, depois da morte do primeiro amante, vivendo com outros; andára então ao collo com Maria Eduarda a quem se davam bonecas... E desde então não deixára mais de vêr Maria Eduarda, de a seguir: em Paris; no convento de Tours; em Fontainebleau com o irlandez; nos braços de Castro Gomes; n’uma tipoia de praça emfim com elle e com Carlos da Maia, havia dias, no caes do Sodré! Tudo isto se encadeava, concordando com a historia contada por Maria Eduarda. E de tudo resaltava esta certeza monstruosa: — Carlos amante da irmã!