OS MAIAS
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democrata embrulhára n’um velho numero do Rappel. Ega metteu-a no bolso largo do seu paletot: e immediatamente, como se qualquer outra palavra entre elles fosse vã, estendeu a mão ao snr. Guimarães. Mas o outro insistiu em o acompanhar até á esquina da rua do Arsenal, apesar de estar de boné. A noite, para quem vinha de Paris, tinha uma doçura oriental — e elle, com os seus habitos de jornalista, nunca se deitava senão tarde, ás duas, tres horas da madrugada...

E então, caminhando devagar, com as mãos nos bolsos e o charuto entre os dentes, o snr. Guimarães voltou á politica e ao sarau. A poesia do Alencar (de que esperára muito por causa do titulo, A Democracia) sahira-lhe consideravelmente chôcha.

— Muita flôr, muita farofia, muita liberdade, mas não havia alli um ataque em fórma, duas ou tres boas estocadas n’esta choldra da monarchia e da côrte... Pois não é verdade?

— Sim, com effeito... — murmurou Ega, olhando ao longe, na esperança d’uma tipoia.

— É como os jornaes republicanos que por ahi ha... Tudo uma palhada, senhores, tudo uma balofice!... É o que eu lhes digo a elles: — «Ó almas do diabo, atacai as questões sociaes!»

Felizmente um trem avançava, rolando devagar, do lado do Terreiro do Paço. Ega, precipitadamente, deu um aperto de mão ao democrata, desejou-lhe uma «boa viagem», atirou ao cocheiro a