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OS MAIAS

adresse do Ramalhete. Mas o snr. Guimarães ainda se apoderou da portinhola — para aconselhar ao Ega que fosse a Paris. Agora, que tinham feito amizade, havia de o apresentar a toda aquella gente... E o snr. Ega veria! Não era cá a grande pose portugueza, d’estes imbecis, d’estes pelintras a darem-se ares, torcendo os bigodes. Lá, na primeira nação do mundo, tudo era alegria e fraternidade e espirito a rodos...

— E a minha adresse, na redacção do Rappel! Bem conhecida no mundo! Emquanto ao embrulhosinho fico descançado...

— Póde v. exc.ª ficar descançado!

— Criado de v. exc.ª... Os meus comprimentos á snr.ª D. Maria!

Na carruagem, através do Aterro, a anciosa interrogação do Ega a si mesmo foi — «que hei de fazer?» Que faria, santo Deus, com aquelle segredo terrivel que possuia, de que só elle era senhor, agora que o Guimarães partia, desapparecia para sempre? E antevendo com terror todas as angustias em que essa revelação ia lançar o homem que mais estimava no mundo — a sua instinctiva idéa foi guardar para sempre o segredo, deixal-o morrer dentro em si. Não diria nada; o Guimarães sumia-se em Paris; e quem se amava continuava a amar-se!... Não crearia assim uma crise atroz na vida de Carlos — nem soffreria elle, como companheiro, a sua parte d’essas afflicções. Que coisa mais impiedosa, de resto, que estragar a vida de