OS MAIAS
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a mesa de cabeceira. Reconheceu a letra do Villaça. E nem a abriu... Uma idéa sulcára-o de repente. Contar tudo ao Villaça!... Porque não? Era o procurador dos Maias. Nunca para elle houvera segredos n’aquella casa. E esta complicação singular d’uma senhora da familia, considerada morta e que surge inesperadamente — a quem a pertencia aclarar senão ao fiel procurador, ao velho confidente, ao homem que, por herança e por destino, recebera sempre todos os segredos e partilhára todos os interesses domesticos?... E sem pensar, sem aprofundar mais, fixou-se logo n’esta decisão salvadora, — que ao menos o socegava, lhe tirava já do coração um peso de ferro, suffocante e intoleravel...

Devia acordar cedo, procurar Villaça em casa. Escreveu n’uma folha de papel — «Acorda-me ás sete». E desceu abaixo, ao longo corredor de pedra onde dormiam os criados, dependurou este recado na chave do quarto do escudeiro.

Quando subiu, mais calmo, — abriu então a carta do Villaça. Era uma curta linha lembrando ao amigo Ega que a letrinha de duzentos mil reis, no Banco Popular, se vencia d’ahi a dois dias...

— Sêbo, tudo se junta! exclamou Ega furioso, atirando a carta amarrotada para o chão.