OS MAIAS
405

e passado o primeiro horror, de que lhe podia, na realidade, vir a definitiva dôr? Sómente do prazer ter findado. Era então como outro qualquer desgosto d’amor. Bem menos atroz do que se Maria o tivesse trahido com o Damaso!

De repente a porta abriu-se, Carlos appareceu exclamando:

— Então que madrugada foi esta? Disse-me agora lá em baixo o Baptista... É aventura? duello?

Trazia o paletot todo abotoado, com a gola erguida, escondendo ainda a gravata branca da vespera; e decerto chegára da rua de S. Francisco na tipoia que havia instantes Ega sentira parar na calçada.

Elle sentára-se bruscamente na cama; e estendendo a mão para os cigarros, sobre a mesa ao lado, murmurou, bocejando, que na véspera combinára uma ida a Cintra com o Taveira... Por precaução mandára-se chamar... Mas não sabia, acordára cansado...

— Que tal está o dia?

Justamente Carlos fôra correr o transparente da janella. Ahi, na mesa de trabalho, collocada em plena luz, ficára a caixa da Monforte embrulhada no Rappel. E Ega pensou n’um relance: — «Se elle repara, se pergunta, digo tudo!» — O seu pobre coração pôz-se a bater anciosamente no terror d’aquella decisão. Mas o transparente um pouco pêrro subiu, uma facha de sol banhou a mesa — e