OS MAIAS
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tom côr de rosa da luz cahindo sobre os damascos: as cartas esperavam na mesa do whist: no sofá bordado a matiz D. Diogo, murcho e molle, olhava o lume, cofiando os bigodes. E, travadas n’alguma questão, a voz do Craft, que perpassou de cachimbo na mão, e a voz mais lenta de Affonso, tranquillo na sua poltrona, misturavam-se, abafadas pela do Sequeira, que berrava furiosamente: — «Mas se ámanhã houvesse uma bernarda, esse exercito com que os senhores querem acabar por ser uma escóla de vadiagem é que lhes havia de guardar as costas... É bom fallar, ter muita philosophia! Mas quando ellas chegam, se não ha meia duzia de baionetas promptas, então são as cólicas!...»

Ega foi d’alli aos quartos de Carlos. As velas ardiam ainda nas serpentinas: um aroma errava de agua de Lubin e charuto: e o Baptista disse-lhe que o snr. D. Carlos «sahira havia dez minutos». Fôra para a rua de S. Francisco! Ia lá dormir! Então enervado, com a longa e triste noite diante de si, Ega teve um appetite de se atordoar, dissipar n’uma excitação forte as idéas que o torturavam. Não despedira a tipoia, abalou para S. Carlos. E findou por ir cear ao Augusto com o Taveira e duas raparigas, a Paca e a Carmen Philosopha, prodigalisando o champagne. Ás quatro da manhã estava bebedo, estatelado sobre o sofá, gemendo sentimentalmente, só para si, as estrophes de Musset á Malibran... O Taveira e a Paca, juntinhos