OS MAIAS
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Ella mesma disse que lhe tinha morrido a filha, mostrou já não sei a quem um retrato...

— Era outra mais nova, a filha do italiano, disse o Ega. O Guimarães fallou-me n’isso... Foi esta que viveu. Esta, que tinha já sete a oito annos, quando havia apenas quatro ou cinco que esse sujeito italiano apparecera em Lisboa... Foi esta.

— Foi esta, murmurou o velho.

Teve um gesto vago de resignação, acrescentou, depois de respirar fortemente:

— Bem! Tudo isto tem de ser mais pensado... Parece-me bom tornar a chamar o Villaça... Talvez seja necessario que elle vá a Paris... E antes de tudo precisamos socegar... De resto não ha aqui morte d’homem... Não ha aqui morte d’homem!

A voz sumia-se-lhe, toda tremula. Estendeu a mão a Carlos que lh’a beijou, suffocado; e o velho, puxando o neto para si, pousou-lhe os labios na testa. Depois deu dois passos para a porta, tão lentos e incertos que Ega correu para elle:

— Tome v. exc.ª o meu braço...

Affonso apoiou-se n’elle, pesadamente. Atravessaram a ante-camara silenciosa onde a chuva contínua batia os vidros. Por traz d’elles cahiu o grande reposteiro com as armas dos Maias. E então Affonso, de repente, soltando o braço do Ega, murmurou-lhe, junto á face, no desabafo de toda a sua dôr:

— Eu sabia d’essa mulher!... Vive na rua de S.