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OS MAIAS

a brancura vaga do cortinado que envolvia o leito. E foi d’ahi que ella murmurou, mal acordada:

— Entra! Vim-me deitar, estava muito cansada... Que horas são?

Carlos não se movera, ainda com a mão na porta:

— É tarde, e eu preciso sahir já a procurar o Villaça ... Vinha dizer-te que tenho talvez de ir a Santa Olavia, além d’ámanhã, por dois ou tres dias...

Um movimento, entre os cortinados, fez ranger o leito.

— Para Santa Olavia?... Ora essa, porque? E assim de repente... Entra!... Vem cá!

Então Carlos deu um passo no tapete, sem rumor. Ainda sentia o ranger molle do leito. E já todo aquelle aroma d’ella que tão bem conhecia, esparso na sombra tepida, o envolvia, lhe entrava n’alma com uma seducção inesperada de caricia nova, que o perturbava estranhamente. Mas ia balbuciando, insistindo na sua pressa de encontrar essa noite o Villaça.

— É uma massada, por causa d’uns feitores, d’umas aguas...

Tocou no leito; e sentou-se muito á beira, n’uma fadiga que de repente o enleára, lhe tirava a força para continuar essas invenções d’aguas e de feitores, como se ellas fossem montanhas de ferro a mover.

O grande e bello corpo de Maria, embrulhado