OS MAIAS
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n’um roupão branco de sêda, movia-se, espreguiçava-se languidamente sobre o leito brando.

— Achei-me tão cansada, depois de jantar, veio-me uma preguiça... Mas então partires assim de repente!... Que sécca! Dá cá a mão!

Elle tenteava, procurando na brancura da roupa: encontrou um joelho a que percebia a fórma e o calor suave, através da sêda leve: e alli esqueceu a mão, aberta e frouxa, como morta, n’um entorpecimento onde toda a vontade e toda a consciencia se lhe fundiam, deixando-lhe apenas a sensação d’aquella pelle quente e macia onde a sua palma pousava. Um suspiro, um pequenino suspiro de criança, fugiu dos labios de Maria, morreu na sombra. Carlos sentiu a quentura de desejo que vinha d’ella, que o entontecia, terrivel como o bafo ardente d’um abysmo, escancarado na terra a seus pés. Ainda balbuciou: «não, não...» Mas ella estendeu os braços, envolveu-lhe o pescoço, puxando-o para si, n’um murmurio que era como a continuação do suspiro, e em que o nome de querido susurrava e tremia. Sem resistencia, como um corpo morto que um sopro impelle, elle cahiu-lhe sobre o seio. Os seus labios seccos acharam-se collados n’um beijo aberto que os humedecia. E de repente, Carlos enlaçou-a furiosamente, esmagando-a e sugando-a, n’uma paixão e n’um desespero que fez tremer todo o leito.