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OS MAIAS

— O Carlos? esteve lá?

Ega balbuciou, atarantado, em mangas de camisa. Não sabia... Estivera apenas um momento nos Gouvarinhos... Era provavel que Carlos tivesse ido mais tarde com o Taveira, para a ceia.

O velho cerrára os olhos, como se desfallecesse, estendendo a mão para se apoiar. Ega correu para elle:

— Não se afflija, snr. Affonso da Maia!

— Que queres então que faça? Onde está elle? Lá mettido, com essa mulher... Escusas de dizer, eu sei, mandei espreitar... Desci a isso, mas quiz acabar esta angustia... E esteve lá hontem até de manhã, está lá a dormir n’este instante... E foi para este horror que Deus me deixou viver até agora!

Teve um grande gesto de revolta e de dôr. De novo os seus passos, mais pesados, mais lentos, se sumiram no corredor.

Ega ficou junto da porta, um momento, estarrecido. Depois foi-se despindo devagar, decidido a dizer a Carlos muito simplesmente, ao outro dia, antes de partir para Celorico, que a sua infamia estava matando o avô, e o forçava a elle, seu melhor amigo, a fugir para a não testemunhar por mais tempo.

Mal acordou, puxou a mala para o meio do quarto, atirou para cima da cama, ás braçadas, a roupa que ia emmalar. E durante meia hora, em mangas de camisa, lidou n’esta tarefa, misturando