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OS MAIAS

elles sabiam tudo. E mesmo que n’essa noite fugisse para Santa Olavia, pondo entre si e Maria uma separação tão alta como o muro d’um claustro, nunca mais do espirito d’aquelles homens, que eram os seus amigos melhores, sahiria a memoria e a dôr da infamia em que elle se despenhára. A sua vida moral estava estragada... Então, para que partiria — abandonando a paixão, sem que por isso encontrasse a paz? Não seria mais logico calcar desesperadamente todas as leis humanas e divinas, arrebatar para longe Maria na sua innocencia, e para todo o sempre abysmar-se n’esse crime que se tornára a sua sombria partilha na terra?

Já assim pensára na vespera. Já assim pensára... Mas antevira então um outro horror, um supremo castigo, a esperal-o na solidão onde se sepultasse. Já lhe percebera mesmo a aproximação; já n’outra noite recebera d’elle um arrepio; já n’essa noite, deitado junto de Maria, que adormecera cansada, o presentira, apoderando-se d’elle, com um primeiro frio d’agonia.

Era, surgindo do fundo do seu sêr, ainda tenue mas já perceptivel, uma saciedade, uma repugnancia por ella desde que a sabia do seu sangue!... Uma repugnancia material, carnal, á flôr da pelle, que passava como um arrepio. Fôra primeiramente aquelle aroma que a envolvia, fluctuava entre os cortinados, lhe ficava a elle na pelle e no fato, o excitava tanto outr’ora, o impacientava tanto agora — que ainda na vespera se encharcára em agua de Colonia