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OS MAIAS

nervosamente os dedos no bigode, murmurou termos technicos... De resto, dizia, já o collega se teria compenetrado de que tudo infelizmente findára. Elle sentia das véras da alma o desgosto... Se para alguma coisa fosse necessario, com o maximo prazer...

— Muito agradecido a v. exc.ª, balbuciou Carlos.

Ega, em chinelas, deu alguns passos com o snr. dr. Azevedo, para lhe indicar a porta do jardim.

Carlos no emtanto ficára defronte do velho, sem chorar, perdido apenas no espanto d’aquelle brusco fim! Imagens do avô, do avô vivo e forte, cachimbando ao canto do fogão, regando de manhã as roseiras, passavam-lhe n’alma, em tropel, deixando-lh’a cada vez mais dorida e negra... E era então um desejo de findar tambem, encostar-se como elle áquella mesa de pedra, e sem outro esforço, nenhuma outra dôr da vida, cahir como elle na sempiterna paz. Uma restea de sol, entre os ramos grossos do cedro, batia a face morta de Affonso. No silencio os passaros, um momento espantados, tinham recomeçado a chalrar. Ega veio a Carlos, tocou-lhe no braço:

— É necessario leval-o para cima.

Carlos beijou a mão fria que pendia. E, devagar, com os beiços a tremer, levantou o avô pelos hombros carinhosamente. Baptista correra a ajudar; Ega, embaraçado no seu largo roupão, segurava os pés do velho. Através do jardim, do terraço cheio de sol, do escriptorio onde a sua poltrona