OS MAIAS
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Os olhos ennevoavam-se-lhe, deu um immenso sorvo ao cognac.

Ega, depois de beber um gole de café, voltára ao escriptorio, onde o cheiro d’incenso espalhava uma melancolia de capella. D. Diogo, estirado no sofá, resonava; Sequeira defronte dormitava tambem, descahido sobre os braços cruzados, com todo o sangue na face. Ega despertou-os de leve. Os dois velhos amigos, depois d’um abraço a Carlos, partiram na mesma carruagem, com os charutos accêsos. Os outros, pouco a pouco, iam tambem abraçar Carlos, enfiavam os paletots. O ultimo a sahir foi Alencar, que, no pateo, beijou o Ega, n’um impulso d’emoção, lamentando ainda o passado, os companheiros desapparecidos:

— O que me vale agora são vocês, rapazes, a gente nova. Não me deitem á margem! Senão, caramba, quando quizer fazer uma visita tenho d’ir ao cemiterio. Adeus, não apanhes frio!

O enterro foi ao outro dia, á uma hora. O Ega, o marquez, o Craft, o Sequeira levaram o caixão até á porta, seguidos pelo grupo d’amigos, onde destacava o conde de Gouvarinho, solemnissimo, de gran-cruz. O conde de Steinbroken, com o seu secretario, trazia na mão uma corôa de violetas. Na calçada estreita os trens apertavam-se, n’uma longa fila que subia, se perdia pelas outras ruas, pelas travessas: em todas as janellas do bairro se apinhava gente: os policias berravam com os cocheiros. Por fim o carro, muito simples, rodou, seguido por