OS MAIAS
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E diante d’esta dôr, tão humilde e tão muda, Ega ficou desconcertado. Durante um instante, com os dedos tremulos no bigode, viu Maria chorar em silencio. Por fim ergueu-se, foi á janella, voltou, abriu os braços diante d’ella n’uma afflicção:

— Não, não é isso, minha querida senhora! Ha outra coisa, ha ainda outra coisa! Tem sido para nós dias terriveis! Tem sido dias d’angustia...

Outra coisa!?... Ella esperava, com os olhos largos sobre o Ega, a alma toda suspensa.

Ega respirou fortemente:

— V. exc.ª lembra-se d’um Guimarães, que vive em Paris, um tio do Damaso?

Maria, espantada, moveu lentamente a cabeça.

— Esse Guimarães era muito conhecido da mãi de v. exc.ª, não é verdade?

Ella teve o mesmo movimento breve e mudo. Mas o pobre Ega hesitava ainda, com a face arrepanhada e branca, n’um embaraço que o dilacerava:

— Eu fallo em tudo isto, minha senhora, porque Carlos assim me pediu... Deus sabe o que me custa!... E é horrivel, nem sei por onde hei de começar...

Ella juntou as mãos, n’uma supplica, n’uma angustia:

— Pelo amor de Deus!

E n’esse instante, muito socegadamente, Rosa erguia uma ponta do reposteiro, com Niniche ao lado e a sua boneca nos braços. A mãi teve um grito impaciente: