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OS MAIAS

Quando v. exc.ª decidir partir, peço-lhe que mande um recado ao Ramalhete para eu estar na gare... Creio que é tudo. E agora devo deixal-a...

Agarrára rapidamente o chapéo, veio tomar-lhe a mão inerte e fria:

— Tudo é uma fatalidade! V. exc.ª é nova, ainda lhe resta muita coisa na vida, tem a sua filha a consolal-a de tudo... Nem lhe sei dizer mais nada!

Suffocado, beijou-lhe a mão que ella lhe abandonou, sem consciencia e sem voz, de pé, direita no seu negro luto, com a lividez parada d’um marmore. E fugiu.

— Ao telegrapho! gritou em baixo ao cocheiro.

Foi só na rua do Ouro que começou a serenar, tirando o chapéo, respirando largamente. E ia então repetindo a si mesmo todas as consolações que se poderiam dar a Maria Eduarda: era nova e formosa; o seu peccado fôra inconsciente; o tempo acalma toda a dôr; e em breve, já resignada, encontrar-se-hia com uma familia séria, uma larga fortuna, n’esse amavel Paris, onde uns lindos olhos, com algumas notas de mil francos, têm sempre um reinado seguro...

— É uma situação de viuva bonita e rica, terminou elle por dizer alto no coupé. Ha peor na vida.

Ao sahir do telegrapho despediu a tipoia. Por aquella luz consoladora do dia de inverno, recolheu a pé para o Ramalhete, a escrever a longa