OS MAIAS
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distribuição d’abraços a todos os amigos queridos.»

Villaça copiou este paragrapho, e trazia-o na carteira para mostrar aos fieis amigos do Ramalhete. Todos approvaram, com admiração, tão bellas, aventurosas jornadas. Só Cruges, aterrado com aquella vastidão do Universo, murmurou tristemente: «Não voltam cá!»

Mas, passado anno e meio, n’um lindo dia de março, Ega reappareceu no Chiado. E foi uma sensação! Vinha esplendido, mais forte, mais trigueiro, soberbo de verve, n’um alto apuro de toilette, cheio de historias e de aventuras do Oriente, não tolerando nada em arte ou poesia que não fosse do Japão ou da China, e annunciando um grande livro, o «seu livro», sob este titulo grave de chronica heroica — Jornadas da Asia.

— E Carlos?...

— Magnifico! Installado em Paris, n’um delicioso appartamento dos Campos-Elyseos, fazendo a vida larga d’um principe artista da Renascença...

Ao Villaça porém, que sabia os segredos, Ega confessou que Carlos ficára ainda abalado. Vivia, ria, governava o seu phaeton no Bois — mas lá no fundo do seu coração permanecia, pesada e negra, a memoria da «semana terrivel».

— Todavia os annos vão passando, Villaça, acrescentou elle. E com os annos, a não ser a China, tudo na terra passa...

E esse anno passou. Gente nasceu, gente morreu.