OS MAIAS
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Onde havia melhor, na Europa, em qualquer civilisação? Sempre queria vêr que se passasse uma noite mais alegre em Paris, na desoladora banalidade do Grand-Treize, ou em Londres, n’aquella correcta e massuda semsaboria do Bristol! O que ainda tornava a vida toleravel era de vez em quando uma boa risada. Ora na Europa o homem requintado já não ri, — sorri regeladamente, lividamente. Só nós aqui, n’este canto do mundo barbaro, conservamos ainda esse dom supremo, essa coisa bemdita e consoladora — a barrigada de riso!...

— Que diabo estás tu a olhar?

Era o consultorio, o antigo consultorio de Carlos — onde agora, pela taboleta, parecia existir um pequeno atelier de modista. Então bruscamente os dois amigos recahiram nas recordações do passado. Que estupidas horas Carlos alli arrastára, com a Revista dos Dois Mundos, na espera vã dos doentes, cheio ainda de fé nas alegrias do trabalho!... E a manhã em que o Ega lá apparecera com a sua esplendida pelliça, preparando-se para transformar, n’um só inverno, todo o velho e rotineiro Portugal!

— Em que tudo ficou!

— Em que tudo ficou! Mas rimos bastante! Lembras-te d’aquella noite em que o pobre marquez queria levar ao consultorio a Paca, para utilisar emfim o divan, movel de serralho?...

Carlos teve uma exclamação de saudade. Pobre marquez! Fôra uma das suas fortes impressões, n’esses