OS MAIAS
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silencio. Maria Eduarda retomára o bordado. E Damaso, depois de sorrir, de tossir, de dar um geito ao bigode, estendeu a mão para acariciar tambem Niniche sobre os joelhos de Carlos. Mas a cadellinha, que havia momentos o espreitava com o olho desconfiado, ergueu-se, rompeu a ladrar furiosa.

C’est moi, Niniche! dizia Damaso, recuando a cadeira. C’est moi, ami... Alors, Niniche...

Foi necessario que Maria Eduarda reprehendesse severamente Niniche. E, aninhada de novo no collo de Carlos, ella continuou a espreitar Damaso, rosnando, e com rancor.

— Já me não conhece, dizia elle embaçado, é curioso...

— Conhece-o perfeitamente, acudiu Maria Eduarda muito séria. Mas não sei o que o snr. Damaso lhe fez, que ella tem-lhe odio. É sempre este escandalo.

Damaso balbuciava, escarlate:

— Ora essa, minha senhora! O que lhe fiz?... Caricias, sempre caricias...

E então não se conteve, fallou com ironia, amargamente, das amizades novas de Mademoiselle Niniche. Alli estava nos braços d’outro, emquanto que elle, o amigo velho, era deitado ao canto...

Carlos ria.

— Ó Damaso, não a accuses de ingratidão... Pois se a snr.ª D. Maria Eduarda está a dizer que ella sempre te teve odio...