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OS MAIAS

branca! E estrangulados, sem vêr, sob uma nevoa de lagrimas, os dois continuavam, um defronte do outro, em espirros afflictivos que os desengonçavam.

Carlos por fim conseguiu abrir largamente as duas portadas d’uma janella. No terraço morria um resto de sol. E, revivendo um pouco ao ar puro, alli ficaram de pé, calados, limpando os olhos, sacudidos ainda por um ou outro espirro retardado.

— Que infernal invenção! exclamou Carlos, indignado.

Ega, ao fugir com o lenço na face, tropeçára, batera contra um sofá, coçava a canella:

— Estupida coisa! E que bordoada que eu dei!...

Voltou a olhar para a sala, onde todos os moveis desappareciam sob os largos sudarios brancos. E reconheceu que tropeçára na antiga almofada de velludo do velho Bonifacio. Pobre Bonifacio! Que fôra feito d’elle?

Carlos, que se sentára no parapeito baixo do terraço, entre os vasos sem flôr, contou o fim do reverendo Bonifacio. Morrera em Santa Olavia, resignado, e tão obeso que se não movia. E o Villaça, com uma idéa poetica, a unica da sua vida de procurador, mandára-lhe fazer um mausoléo, uma simples pedra de marmore branco, sob uma roseira, debaixo das janellas do quarto do avô.

Ega sentára-se tambem no parapeito, ambos se esqueceram n’um silencio. Em baixo o jardim, bem areado, limpo e frio na sua nudez d’inverno, tinha