OS MAIAS
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duas columnas de carvalho lavrado, deu um geito ao bigode, concluiu, sorrindo melancolicamente:

— E mais gordo!

Ega espalhava tambem pelo quarto um olhar pensativo:

— Lembras-te quando appareci aqui uma noite, n’uma agonia, vestido de Mephistopheles?

Então Carlos teve um grito. E a Rachel, é verdade! A Rachel? Que era feito da Rachel, esse lirio d’Israel?

Ega encolheu os hombros:

— Para ahi anda, estuporada...

Carlos murmurou — «coitada!» E foi tudo o que disseram sobre a grande paixão romantica do Ega.

Carlos no emtanto fôra examinar, junto da janella, um quadro que pousava no chão, para alli esquecido e voltado para a parede. Era o retrato do pai, de Pedro da Maia, com as suas luvas de camurça na mão, os grandes olhos arabes na face triste e pallida que o tempo amarellára mais. Collocou-o em cima d’uma commoda. E atirando-lhe uma leve sacudidella com o lenço:

— Não ha nada que me faça mais pena do que não ter um retrato do avô!... Em todo o caso este sempre o vou levar para Paris.

Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrára, se, n’esses ultimos annos, elle não tivera a idéa, o vago desejo de voltar para Portugal...

Carlos considerou Ega com espanto. Para que?