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OS MAIAS

Decerto! Havia o quarto em cima, onde elle estivera depois de deixar a Villa Balzac. E mais sumptuoso agora, com um bello leito da Renascença, e uma cópia dos Borrachos de Velasquez.

— Optimo covil para a arte! Velasquez é um dos Santos Padres do naturalismo... A proposito, sabes com quem eu vim? Com a Gouvarinho. O pai Tompson esteve á morte, arribou, depois o conde foi buscal-a. Achei-a magra; mas com um ar ardente; e fallou-me constantemente de ti.

— Ah! murmurou Carlos.

Ega, de monoculo no olho e mãos nos bolsos, contemplava Carlos.

— É verdade. Fallou de ti constantemente, irresistivelmente, immoderadamente! Não me tinhas mandado contar isso... Sempre seguiste o meu conselho, hein? Muito bem feita de corpo, não é verdade? E que tal, no acto d’amor?

Carlos córou, chamou-lhe grosseiro, jurou que nunca tivera com a Gouvarinho senão relações superficiaes. Ia lá ás vezes tomar uma chavena de chá; e á hora do Chiado acontecia-lhe, como a todo o mundo, conversar com o conde sobre as miserias publicas, á esquina do Loreto. Nada mais.

— Tu estás-me a mentir, devasso! dizia o Ega. Mas não importa. Eu hei de descobrir tudo isso com o meu olho de Balzac, na segunda-feira.... Porque nós vamos lá jantar na segunda-feira.

— Nós... Nós, quem?

— Nós. Eu e tu, tu e eu. A condessa convidou-me