OS MAIAS
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no comboio. E o Gouvarinho, como compete ao individuo d’aquella especie, acrescentou logo que haviamos de ter tambem «o nosso Maia». O Maia d’elle, e o Maia d’ella... Santo accordo! Suavissimo arranjo!

Carlos olhou-o com severidade.

— Tu vens obsceno de Celorico, Ega.

— É o que se aprende no seio da Santa Madre Igreja.

Mas tambem Carlos tinha uma novidade que o devia fazer estremecer. O Ega porém já sabia. A chegada dos Cohens, não é verdade? Lêra-o logo n’essa manhã, na Gazeta Illustrada, no high-life. Lá se dizia respeitosamente que s. exc.as tinham regressado do seu passeio pelo estrangeiro.

— E que impressão te fez? perguntou Carlos rindo.

O outro encolheu brutalmente os hombros:

— Fez-me o effeito de haver um cabrão mais na cidade.

E, como Carlos o accusava outra vez de trazer de Celorico uma lingua immunda, o Ega, um pouco córado, arrependido talvez, lançou-se em considerações criticas, clamando pela necessidade social de dar ás coisas o nome exacto. Para que servia então o grande movimento naturalista do seculo? Se o vicio se perpetuava, é porque a sociedade, indulgente e romanesca, lhe dava nomes que o embellezavam, que o idealisavam... Que escrupulo póde ter uma mulher em beijocar um