OS MAIAS
57

mostrando as estampas a um pequeno bonito, muito moreno, d’olho vivo, e cabello encarapinhado. O velho ficou contentissimo ao saber que o Ega vinha por algum tempo alegrar o Ramalhete com a sua bella phantasia.

— Já não tenho phantasia, snr. Affonso da Maia!

— Então esclarecêl-o com a tua clara razão, disse o velho rindo. Estamos cá precisando d’ambas as coisas, John.

Depois apresentou-lhe aquelle pequeno cavalheiro, o snr. Manoelinho, rapazinho amavel da visinhança, filho do Vicente, mestre d’obras; o Manoelinho vinha ás vezes animar a solidão d’Affonso — e alli folheavam ambos livros d’estampas e tinham conversas philosophicas. Agora, justamente, estava elle muito embaraçado por não lhe saber explicar como é que o general Canrobert (de quem estavam admirando o garbo sobre o seu cavallo empinado) tendo mandado matar gente, muita gente, em batalhas, não era mettido na cadêa...

— Está visto! exclamou o pequeno, esperto e desembaraçado, com as mãos cruzadas atraz das costas. Se mandou matar gente deviam-no ferrar na cadêa!

— Hein, amigo Ega! dizia Affonso rindo. Que se ha de responder a esta bella logica? Olha, filho, agora que estão aqui estes dois senhores que são formados em Coimbra, eu vou estudar esse caso... Vai tu vêr os bonecos alli para cima da mesa...