OS MAIAS
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de coisas que se dizem e que não são exactas... E se se faz uma allusão ironica a ellas, ninguem comprehende a allusão nem a ironia...

A condessa não respondeu logo, dando com o olhar uma ordem muda ao escudeiro. Depois, com um sorriso pallido:

— No fundo de tudo que se diz ha sempre um facto, ou um bocado de facto que é verdadeiro. E isso basta... Pelo menos a mim basta-me...

— A senhora condessa tem então uma credulidade infantil. Estou vendo que acredita que era uma vez uma filha d’um rei que tinha uma estrella na testa...

Mas o conde interpellava-o, o conde queria a opinião do seu amigo Maia. Tratava-se do livro de um inglez, o major Bratt, que atravessára a Africa, e dizia coisas perfidamente desagradaveis para Portugal. O conde via alli só inveja — a inveja que nos têm todas as nações por causa da importancia das nossas colonias, e da nossa vasta influencia na Africa...

— Está claro, dizia o conde, que não temos nem os milhões, nem a marinha dos inglezes. Mas temos grandes glorias; o infante D. Henrique é de primeira ordem; e a tomada d’Ormuz é um primor... E eu que conheço alguma coisa de systemas coloniaes, posso affirmar que não ha hoje colonias nem mais susceptiveis de riqueza, nem mais crentes no progresso, nem mais liberaes que as nossas! Não lhe parece, Maia?