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OS MAIAS

— Sim, talvez, é possivel... Ha muita verdade n’isso...

Mas Ega, que estivera um pouco silencioso, entalando de vez em quando o monoculo no olho e sorrindo para a baroneza, pronunciou-se alegremente contra todas essas explorações da Africa, e essas longas missões geographicas... Porque não se deixaria o preto socegado, na calma posse dos seus manipansos? Que mal fazia á ordem das coisas que houvesse selvagens? Pelo contrario, davam ao Universo uma deliciosa quantidade de pittoresco! Com a mania franceza e burgueza de reduzir todas as regiões e todas as raças ao mesmo typo de civilisação, o mundo ia tornar-se d’uma monotonia abominavel. Dentro em breve um touriste faria enormes sacrificios, despezas sem fim, para ir a Tombuctu — para quê? Para encontrar lá pretos de chapéo alto, a lêr o Jornal dos Debates!

O conde sorria com superioridade. E a boa D. Maria, sahindo do seu vago abatimento, movia o leque, dizia a Carlos, deleitada:

— Este Ega! Este Ega! Que graça! Que chic!

Então Sousa Netto, pousando gravemente o talher, fez ao Ega esta pergunta grave:

— V. exc.ª pois é em favor da escravatura?

Ega declarou muito decididamente ao snr. Sousa Netto que era pela escravatura. Os desconfortos da vida, segundo elle, tinham começado com a libertação dos negros. Só podia ser sériamente obedecido, quem era sériamente temido... Por isso