— É meu costume, snr. Ega, não entrar nunca em discussões, e acatar todas as opiniões alheias, mesmo quando ellas sejam absurdas...
E quasi voltou as costas ao Ega, dirigindo-se outra vez a Carlos, desejando saber, n’uma voz ainda um pouco alterada, se elle agora se fixava algum tempo mais em Portugal. Então, durante um momento, acabando os charutos, os dois fallaram de viagens. O snr. Netto lamentava que os seus muitos deveres não lhe permitissem percorrer a Europa. Em pequeno fôra esse o seu ideal; mas agora, com tantas occupações publicas, via-se forçado a não deixar a carteira. E alli estava, sem ter visto sequer Badajoz...
— E v. exc.ª de que gostou mais, de Paris ou de Londres?
Carlos realmente não sabia, nem se podia comparar... Duas cidades tão differentes, duas civilisações tão originaes...
— Em Londres, observou o conselheiro, tudo carvão...
Sim, dizia Carlos sorrindo, bastante carvão, sobretudo nos fogões, quando havia frio...
O snr. Sousa Netto murmurou:
— E o frio alli deve ser sempre consideravel... Clima tão ao norte!...
Esteve um momento mamando o charuto, de palpebra cerrada. Depois, fez esta observação sagaz e profunda:
— Povo pratico, povo essencialmente pratico.