OS MAIAS
79

— Sim, bastante pratico, disse vagamente Carlos, dando um passo para a sala, onde se sentiam as risadas cantantes da baroneza.

— E diga-me outra coisa, proseguiu o snr. Sousa Netto, com interesse, cheio de curiosidade intelligente. Encontra-se por lá, em Inglaterra, d’esta litteratura amena, como entre nós, folhetinistas, poetas de pulso?...

Carlos deitou a ponta do charuto para o cinzeiro, e respondeu, com descaro:

— Não, não ha d’isso.

— Logo vi, murmurou Sousa Netto. Tudo gente de negocio.

E penetraram na sala. Era o Ega que assim fazia rir a baroneza, sentado defronte d’ella, fallando outra vez de Celorico, contando-lhe uma soirée de Celorico, com detalhes picarescos sobre as authoridades, e sobre um abbade que tinha morto um homem e cantava fados sentimentaes ao piano. A senhora d’escarlate, no sofá ao lado, com os braços cahidos no regaço, pasmava para aquella veia do Ega como para as destrezas d’um palhaço. D. Maria, junto da mesa, folheava com o seu ar cansado uma Illustração; e vendo que Carlos ao entrar procurára com o olhar a condessa, chamou-o, disse-lhe baixo que ella fôra dentro vêr Charlie, o pequeno...

— É verdade, perguntou Carlos, sentando-se ao lado d’ella, que é feito d’elle, d’esse lindo Charlie?