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OS MAIAS

E ahi, n’uma caminha de ferro, junto do leito maior da criada, Charlie dormia, sereno, fresco, com um bracinho cahido para o lado, os seus lindos caracoes loiros espalhados no travesseiro como uma aureola d’anjo. Carlos tocou-lhe apenas no pulso; e a criada escosseza, que trouxera uma luz de sobre a commoda, disse, sorrindo tranquillamente:

— O menino n’estes ultimos dias tem andado muitissimo bem...

Voltaram. No gabinete, antes de penetrar no bilhar, a condessa, já com a mão no reposteiro, estendeu ainda a Carlos os seus labios insaciaveis. Elle colheu um rapido beijo. E, ao passar na antecamara, onde Sousa Netto e o conde continuavam enfronhados n’uma conversa grave, ella disse ao marido:

— O pequeno está a dormir... O snr. Carlos da Maia achou-o bem.

O conde de Gouvarinho bateu no hombro de Carlos, carinhosamente. E durante um momento a condessa ficou alli conversando, de pé, a deixar-se serenar, pouco a pouco, n’aquella penumbra favoravel, antes de affrontar a luz forte da sala. Depois, por se fallar em hygiene, convidou o snr. Sousa Netto para uma partida de bilhar; mas o snr. Netto, desde Coimbra, desde a Universidade, não pegára n’um taco. E ia-se chamar o Ega quando appareceu Telles da Gama, que chegava do Price. Logo atraz d’elle entrou o conde de Steinbroken.