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Monteiro Lobato

negro reinador, era só dizer : «Espera, diabo, que te vendo p’r’o capitão Aleixo.» O negro ficava que nem uma seda !... Mas o que elle fez, os fi­lhos pagaram. Eram quatro : Sinhozinho, o mais velho, que morreu no trem, “masgaiado” ; Nha Zabelinha...

III

 

Emquanto o preto falava, insensivelmente fomos caminhando de rumo á casa maldita. Era o casarão clássico das antigas fazendas negrei­ras. Assobradado, erguia-se em alicerces e muramento de pedra até meia altura, e d’alli por deante de páo a pique. Esteios de cabreúva, entremostrando-se picados a enxó, nos trechos d’onde se esboroára o reboco. Janellas e portas em arco, de bandeiras em pandarecos. Pelos in­terstícios da pedra amoitavam-se as samambaias e, nas faces de noruega, avenquinhas rachiticas. Num cunhal crescia annosa figueira, enlaçando as pedras na terrivel cordoalha tentacular. A’ porta de entrada ia ter uma escadaria dupla, com alpendre em cima e parapeito esborcinado.

Puz-me a olhar para aquillo invadido da sau­dade que sempre me causam ruinas, e parece que em Jonas a sensação era a mesma, pois que o vi tornar-se sério, de olhar pregado na casa, como quem recorda. Perdeu o bom humor, o es­pirito brincalhão de inda ha pouco. Emmudeceu.

— Está vista, disse eu depois d’alguns minu­tos. Vamos agora á boia que não é sem tempo.