Os Negros

15

Voltamos. O negro, que não parára de falar, dizia agora de sua vida alli:

— Morreu tudo, meu branco, e fiquei eu só. Tenho umas plantas á beira do rio; palmito no mato e uma paquinha lá de vez em quando na ponta do chuço. Como sou só...

— Só, só, só?

— "Suzinho, suzinho!” A Merencia morreu, faz tres annos. Os filhos, não sei delles. Criança é como ave: cria penna, avôa. O mundo é grande andam pelo mundo, avoando...

— Pois, amigo Bento, saiba você que você é um heroe e um grande philosopho por cima, digno de ser memorado em prosa ou em verso pelos homens que escrevem nos jornaes. Mas philosopho, e de peior especie, está-me parecendo tambem aquelle sujeito... conclui referindo-me ao Jonas que se atrazara e parara de novo em contemplação da casa.

Gritei-lhe:

— Mexe-te, poeta, que ladras ás lagartixas! Olha que sacco vazio não se põe de pé, e temos dez legoas a engulir amanhã.

Respondeu-me com um gesto vago e ficou-se no logar, immovel.

Larguei mão do scismabundo e entrei na casinhola do preto, que, accendendo luz candieiro de azeite foi ao borralho buscar umas raizes de mandioca assada. Pol-as sobre um mocho, quentinhas, dizendo:

— E' o que ha. Isto, e um restico de paca moqueada.