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que pagassem. O meio de embarcal-os era simples. O fugitivo esperava n’um ponto deserto da costa, e no momento de apparelhar, Zuela destacava um escaler que ia buscal-o. Foi deste modo que na sua precedente viagem fez evadir um homem implicado no processo Berthon, e desta vez contava levar pessoas compromettidas na questão da Bidassoa. A policia, já avisada, estava com o olho n’elle.

Era um tempo de fugas aquelle. A restauração era uma reacção; ora as revoluções trazem emigrações, e as restaurações arrastam proscripções. Durante os sete ou oito primeiros annos, depois da entrada dos Bourbons, espalhou-se o terror em tudo, nas finanças, na industria, no commercio, que sentiam tremer a terra e viam multiplicar-se as falencias. Havia um salve-se quem puder na politica. Lavalette fugira; Lefebvre Desnouettes fugira; Delon fugira. Os tribunaes de excepção trabalhavam; depois veio Trestaillon. Fugia-se á ponte de Saumur, á explanada de Reole, ao muro do observatorio de Paris, á torre de Taurias d’Avignon, tudo isso que se conserva de pé na historia, vestigios da reacção, aonde se distingue ainda a sua mão sanguinolenta.

Em Londres, o processo Thisthewood, ramificado em França, em Paris o processo Trogoff, ramificado na Belgica, na Suissa e na Italia, multiplicaram os motivos da inquietação e desapparecimento, e augmentaram essa profunda derrota subterranea, que deixava vasios os mais altos lugares da ordem social de então. Pôr-se em segurança, era a preoccupação universal. O espirito dos tribunaes prebostaes sobrevivera á instituição. As condemnações eram feitas por complacencia.