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pequenas cavas lateraes, pontos inferiores da caverna central, accessiveis talvez na época das marés extremamente baixas.

Essas anfractuosidades tinham tectos em plano inclinado, em angulos mais ou menos abertos. Pequenas plagas, descobertas pelas excavações do mar, mergulhavam-se e perdiam-se debaixo dessas obliquidades.

Longas hervas expessas, de mais de uma toeza, ondulavam debaixo d’agua como um balancear de cabellos ao vento. Entreviam-se florestas de sargaço.

Fóra d’agua, e dentro d’agua, toda a muralha da cava, de alto abaixo, desde a abobada até ao desapparecimento no invisivel, era tapetada dessas prodigiosas florescencias do oceano, tão raramente viaveis ao olho humano, que os velhos navegadores hespanhóes, chamaram praderias del mar. Expesso musgo, com todos os matizes da azeitona, escondia e ampliava as exostosis de granito. De todos os declives rompiam os delgados lóros lavrados do sargaço com que os pescadores fazem barometros. O halito obscuro da caverna agitava essas correas luzentes.

Debaixo dessas vegetações escondiam-se e mostravam-se ao mesmo tempo, as mais raras joias do escrinio do oceano, os marfins, as mitras, os elmos, as purpuras, os buzios, os strultiolarios, as conchas univalvulas. As campanas de lapas, semelhantes a barracas microscopicas, adheriam ao rochedo e grupavam-se em aldèas, em cujas ruas rolavam as multivalvulas, esses escarabeos